quarta-feira, 18 de maio de 2011

POESIA E CANÇÃO BRASILEIRA - parte 5


O autor enfatiza ainda a idéia de que criação subordinada à comunicação é diferente de atletismo intelectual, sendo que afirma em entrevista certa vez que escrever poesia sem regras era como jogar tênis sem rede, não tinha sentido, não se justificava. De novo o paralelo poderia se dar ao pensar o atletismo vocal vigente em grande parte até a década de 50 em comparação à comunicação do canto contido, por onde se expressaram Mário Alves, Noel Rosa e depois João Gilberto, cantores de voz frágil mas de extrema comunicação com o público ouvinte.

            O tempo todo enquanto lia e tomava contato novamente com a serventia das idéias fixas de João Cabral há mais de 10 anos após um contato demorado com o ideário cabralino em virtude de um mestrado, me deparava com considerações sobre a canção. E para minha surpresa, a releitura do artigo intitulado “Da função Moderna da Poesia”, publicado em São Paulo em 1954 veio elucidar algumas questões.

Nesse pronunciamento, o autor expõe a idéia de que a poesia moderna caacterizava-se pela pesquisa formal ou captação da realidade objetiva moderna e dos estados de espírito do homem moderno. Também traça considerações sobre aquilo que chama de enriquecimento técnico da poesia moderna. Estabelece uma bela imagem quando fala que poemas seriam como flechas, sem destino definido, sendo a função do poeta jogá-los independente da pretensão de saber o destino final. E mais à frente, me desafiou a um ajuste de contas afirmando peremptoriamente que as letras de canções não eram boa literatura. Quase saltei da cadeira e passei imediatamente a buscar explicações mediante algo que me parecia sisudez crítica em demasia. A primeira coisa que pensei foi que à época da afirmação de Cabral ainda não havia se delineado de forma mais consistente a canção brasileira enquanto casamento de poesia e música. A Bossa Nova que é sabidamente o ponto de encontro da tradição percussiva africana presente na genealogia do samba, com o requinte harmônico dos acordes dissonantes presentes no jazz americano e ainda com a lírica brasileira de qualidade, visível por exemplo na figura de Vinícius de Moraes, ainda não havia se afirmado.

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