Vila Brasil Código Livre



"Uma vila com o nome de um país ou um país com o nome de uma vila? Apenas canções em que a mistura de música brasileira com referenciais do pampa é o principal enfoque poético".

Primeiro trabalho solo de Richard Serraria, de 2009.
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Tudo tão velho de novo
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Parceria Richard Serraria com Zé Evandro, canção composta após uma viagem a Osório para assistir o Maçambique, ritual em homenagem à Rainha Ginga e o Rei do Congo, segundo domingo de outubro, Nossa Senhora do Rosário Protetora dos Pretos Fugidos, Chefia da Gerência enfileirada e o som dos chocalhos. Aqui num contexto de crítica sobre a influência da Televisão e a metáfora geográfica do Morro Santa Tereza onde se localizam as antenas de TV em Porto Alegre, a Vila Nossa Senhora do Brasil na Grande Cruzeiro, a estrada velha para a praia passando por Santo Antônio em oposição à Free Way = Grande Mídia e as escolhas de um cancionista/compositor que caminha e vive por esses lugares. A viola de 10 de Ângelo Primon foi proposital em homenagem à ancestralidade do gaúcho que usava esse instrumento e as guitarras de Marcelo Corsetti atualizam a abordagem que ainda teve tambores de alfaia misturados com sopapo e bumbo legüero. Tradição e modernidade lado a lado, orgânico e tecnológico, Vila Brasil, um país com o nome de uma vila.


Bem de Cantinho
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Parceria Richard Serraria e Vareja Samba, fala do ato de criação desse objeto musical e poético ao mesmo tempo: a canção. Uma homenagem a criadores fundamentais em minha formação: Bedeu e a linhagem do samba rock gaúcho, Tim Maia, Jorge Ben e Tom Jobim. Uma meta-canção portanto, a lira que pensa sobre si mesma, "a nega" é a canção e eu me rendo à força desse objeto cheio de força expressiva, capaz de falar com propriedade da vida e da alma brasileira. O coro feminino das pastoras gaúchas é de Marietti Fialho, Loma e Vanessa Longoni.


Nuvem se faz mãe
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Nuvem se faz mãe no vento que sopra
No ventre da mãe a criança faz hora
Nuvem se faz mãe no vento que cresce
No ventre da mãe a criança adormece

Tu que se faz mãe teu desejo se faz prece
Atrás da curva do vento, atrás da chuva o beijo

Tu quem se faz mãe teu desejo se faz prece
Do pai que cuida do ventre a lua e o sol entre a gente

Nuvem se faz mãe no vento lá fora
No ventre da mãe a criança demora
Nuvem se faz mãe no vento que cresce
No ventre da mãe a criança amanhece

Tu que se faz mãe teu desejo se faz prece
Atrás da curva do vento, atrás da chuva o beijo

Tu quem se faz mãe teu desejo se faz prece
Do pai que cuida do ventre a lua e o sol entre a gente

Tu quem se faz mãe teu desejo se faz prece
Do pai que cuida do ventre a lua e o sol entre a gente

Tu que se faz mãe teu desejo se faz prece
Atrás da curva do vento, atrás da chuva o beijo do tempo, tu quem se faz mãe.

Jogos de Amar
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Duas canções de ninar: uma canção feita em homenagem à barriga de minha mulher Raquel e outra para uma criança, que estava para nascer, força de nascimento, força de vida. Uma canção feita com poucas palavras e a sonoridade delas vai se desdobrando e criando novos sentidos próximos aos vocábulos mães ("Nuvem se faz Mãe, No ventre da mãe, Tu quem se faz mãe", por exemplo). Ao longo dos últimos anos compondo me vi diante de uma gravidez mágica que gerou minha primeira filha, Cecília, nome de poeta que seria homenageada posteriormente na canção Jogos de Amar em que ela grava seus prenúncios de fala, então com 18 meses. O pai apresenta as coisas do mundo à menina: "De noite cachorros latem no escuro" e a menina se apresenta ao pai como um autêntico "Beijo do tempo".


O soluço de preta mina
LETRA E CIFRA
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A gravidez na adolescência é fato corriqueiro nas periferias do país e essa canção procura tematizar essa questão através de uma abordagem essencialmente poética, pensando em que medida a menina futura mãe tem o direito de conceber quantos filhos quiser. A levada é de candombe misturada com latas e viola de 10, participação vocal de Marcelo Delacroix nos corais finais e citação ao mestre Guimarães Rosa, autor do Miguilim. Parceria com Marcelo Cougo.


Mãe parteira da preta senzala
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Uma canção em parceria com Guilherme Schwalm, um passeio de mãos negras que também construíram Porto Alegre, cidade rica em sua memória afetiva: a Liga da Canela Preta e o futebol praticado somente por negros, a Várzea onde hoje é a Redenção, a lama do arroio Dilúvio, a árvore sobre a ponte na João Pessoa esquina Ipiranga e a menção a uma Porto Alegre rural na zona sul (Vila Nova onde moro) que se urbaniza em ritmo assustador no final do século XX e início do século XXI. A levada de jongo foi propositalmente proposta para dar sustentação ao violão percussivo de Ângelo Primon e novamente as pastoras se fazem presente no belo arranjo vocal criado pelo violeiro.


Aroeira
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Tem crendice popular que manda cumprimentar aroeira quando se passa por esse tipo de arbusto, do contrário pode surgir irritação na pele. Caminhando pela mata virgem nos altos da Vila Nova encontrei as duas aroeiras conhecidas por essas bandas, a preta e a branca. Na dúvida em não saber identificá-las, passo por ambas e dou bom dia quando é o turno da tarde e boa tarde quando é de manhã. A canção com cheiro de mata virgem necessitava de um arranjo bem terra, raiz, chão. O sytar de Ângelo Primon foi um pedido, criando a atmosfera zen, necessária ilustração daquilo que vai proposto na letra, uma brincadeira livre com uma frase do poeta francês Paul Valéry, recriada à minha maneira: "De pele epiderme se faz o mais profundo".


Jaqueline Nega Diaba
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A história de uma mulher fálica, forte e decidida que vive sua sexualidade na plenitude, sem medos da moral judaico-cristã ocidental. Se fosse uma entidade religiosa seria a Pomba Gira, liberdade plena a serviço do prazer. Assim criou-se a base imagética para nascer a letra que foi repassada a Marcelo Cougo que desdobrou isso em harmonia. Uma mulher que vai a uma gafieira e deixa a arma na porta em respeito à festa da sua comunidade e se sente protegida por sua gente pois ela é o amor em forma de gente, "Já que amor nunca negava a quem pedia, a quem passava...". Um samba em 4 tempos: lento com tamborim, cadenciado no cajón, esquentando num samba rock e terminando num sambão marcado por maracanã, permeado pela gaita de Mateus Kléber e reforços vocais de Marcelo Delacroix quase ao final.


Olhos Avulsos
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Canção feita em parceria com Otávio Santos versando sobre a solidão de um homem numa noite, metáfora da condição humana errante em sua essência. O violino é de Gustavo Perius, jovem instrumentista ligado à OSPA que colaborou magistralmente na criação do clima de amor e desapego pensado para essa obra. A letra menciona momentos clássicos da cultura ocidental, a Bíblia e também o mito do pomo da discórdia presente na Ilíada de Homero, juntando ao desencontro afetivo uma certa carga de ancestralidade. O refrão surgiu de um ditado africano recolhido nas ruas de Salvador/Bahia: "Eu sou aquilo que vejo nos seus olhos".


Samba da Impermanência
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Samba canção feito em parceria com Marcelo Cougo, novamente a desilusão amorosa e o fim de um relacionamento servindo de mote à criação. Um samba de breque ao final, expondo a malandragem a uma visão diferente da tradicional. Aqui o malandro sofre e se entrega e ama. As pastoras colaboram também nessa faixa e a gaita de Matheus Kléber simulando um clarinete acabou dando um ar de século XIX à canção ao soar como um realejo, instrumento semelhante a um órgão portátil, encontrado nas ruas e muito popular na época.


O pampa e a cidade
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Chamamé tradicional em parceria com Rodrigo Lucena, gaiteiro de Novo Hamburgo, ex Os Mirins. A síntese buscada nesse disco se materializa no título dessa canção: fazer MPB soar como MPP (Música Popular do Pampa) com toques de eletrônica. Assim, os sambas tem gaita e no tradicional ritmo correntino as guitarras urbanas de Marcelo Corsetti dão a tônica do caos que é viver na cidade grande. A participação nos vocais é de Pirisca Grecco, jovem artista que trilha caminhos semelhantes com sua Comparsa Elétrica, ligando tradição e eletrônica em seu trabalho.


Giba Gigante Negão
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Homenagem a Gilberto Amaro do Nascimento, o Giba Giba, músico gaúcho que trouxe o sopapo à linha de frente da música gaúcha, tradicional tambor da região sul do RS que remete às charqueadas no período colonial e à contribuição africana na construção do estado do RS. São mencionados momentos significativos da música feita nesse país, "o amor, o sorriso e a flor" numa menção à Bossa Nova e depois "Uma mordida na flor", grupo ao qual Giba Giba pertenceu e que atualizou os preceitos tropicalistas no RS. Ao mesmo tempo olha-se para o futuro num Ijexá pós moderno mencionando Sandro Gravador, Alessandro Brinco e Nego Susto, jovens ritmistas de escolas de samba de Porto Alegre que seguem usando esse instrumento ancestral. A expressão "Obi iá iá Obi iô iô" é de origem iorubá e signifca "Saúde, paz e dinheiro para o senhor e a senhora". Assim tal canção ficou como um afoxé feito com sopapo e voz, também do Giba Giba ao final, algo do tipo: as origens da música afrodescendente no RS e o prosseguimento disso às novas gerações. Oxalá!


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