sábado, 16 de abril de 2011

Pampa Esquema Novo



O pampa é um lugar de hibridismos, região de fronteiras móveis culturalmente falando, pátria livre de fronteiras geopolíticas modernas.

A construção da identidade brasileira se deu no período getulista em que se adotou o samba e africanidade baiana como elementos "brasileiros". Há uma necessidade de pensar a questão negra na identidade da região platina, sobretudo vendo a contradição gaúcha: o RS é Brasil, poderia ser africano portanto na expressão musical, mas nosso estado em função da imigração italiana e alemã sobretudo, relegou à negritude ao apagamento ou à invisibilidade. Assim, impõem-se questionamentos acerca da ausência da expressão musical negra naquilo que convencionou-se chamar de "gauchidade", onde a gaita italiana ocupa espaço grande e o tambor, por exemplo, é o bumbo legüero de origem argentina e/ou hispânica. Confrontando a esse dado o fato de haver um tambor negro na região de Rio Grande e Pelotas, tambores afro açorianos no litoral norte do RS e ainda tambores africanos de candombe na região de Montevidéo também. Ocorre aí certo colonialismo cultural em que é imposta uma dominação fruto de diferenças econômicas evidenciando a relação direta entre produção cultural e produção econômica do mundo capitalista.

Enquanto espécie de resgate histórico pode-se avançar no sentido de incluir a força negra na construção do estado do RS. Não somente através da festa, da música, do batuque, da culinária e do linguajar. Mas sobretudo entendendo que a pré história do mundo do trabalho no RS teve a presença negra em sua condição escravista. Assim, atualizar a presença negra na música gaúcha (como de resto a condição negra na sociedade, para muito além de questões de etnicidade ou raça) me parece algo que ainda precisa ser feito. Fazendo uma imagem: parece que os ideais da Semana de 22 ainda não chegaram ao RS, naquela ideia antrofofágica de valorização das diferentes etnias que construíram nosso estado.

Pampa Esquema Novo quer avançar nas intersecções da expressão negra gaúcha brasileira em diálogo com a negritude uruguaia do candombe e da murga, por exemplo e ainda na condição negra da milonga, parte do tango. A região portuária de Buenos Aires e o lunfardo, o tango portenho, tudo isso tem contribuição negra, o que de resto é constatação de boa música em todo o planeta já que a Mãe África permeou a música americana, a música caribenha e a música brasileira, talvez as 3 maiores escolas musicais fora da Europa.

Tudo isso através do objeto canção, misto de poesia e música, gênero que se solidificou ao longo do século XX como via de expressão significativa de questões existenciais contemporâneas.

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Um comentário:

Eliana Mara Chiossi disse...

Trazendo as palavras de Oswald de Andrade:
"Só a Antropofagia nos une".


Um abraço, com admiração pelo Pampa Esquema Novo