Alabê Ôni grava DVD em Pelotas
A expressão, que na língua iorubá significa grande ou nobre tamboreiro, nomeia o projeto que une batuque, maçambique, candombe e quicumbi
Por: Ana Cláudia Dias
anacl@diariopopular.com.br
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Unidos pelo amor à cultura negra estabelecida na América do Sul, os músicos Richard Serraria, Kako Xavier, Walter Pingo e Mimmo Ferreira entram em estúdio em Pelotas para fazer os primeiros registros sonoros do DVD Alabê Ôni. A expressão, que na língua iorubá significa grande ou nobre tamboreiro, nomeia o projeto que une batuque, maçambique, candombe e quicumbi em torno do grande tambor, o sopapo. As gravações começaram na segunda-feira (7) e devem ir até quarta (9).
Sob o nome Alabê Ôni, o grupo de percussionistas evoca a primitiva cultura musical africana que se sedimentou na América do Sul, criou raízes e dá frutos até hoje. Do Uruguai vem o candombe, dos ritos religiosos o batuque, do litoral norte do Rio Grande do Sul, o maçambique e da região de Tavares vem a outra manifestação da cultura afro-riograndense, o quicumbi. Apresentando essas vertentes, o sopapo representa Pelotas e Rio Grande e atua como um mestre de cerimônias.
Mais do que percussionistas interessados em resgatar diferentes identidades culturais, os músicos, pesquisadores destes ritmos há mais de uma década, agora buscam a ancestralidade do sopapo. “As nossas referências sobre o sopapo são contemporâneas, começam nos anos 30 e 40 do século 20 com o Carnaval em Pelotas e Rio Grande”, conta Richard Serraria.
Objetivo é fundamentar teoria
O objetivo é ir atrás do que ocorreu antes e fundamentar a teoria de que o tambor, um pouco diferente do que se conhece hoje, é claro, interagia com instrumentos de percussão de outras regiões. Serraria conta que, por exemplo, existe registro no dicionário de afronegrismos do Uruguai de um instrumento chamado sopipa, mais pesado e de tom mais grave, dentro do candombe.
O objetivo é ir atrás do que ocorreu antes e fundamentar a teoria de que o tambor, um pouco diferente do que se conhece hoje, é claro, interagia com instrumentos de percussão de outras regiões. Serraria conta que, por exemplo, existe registro no dicionário de afronegrismos do Uruguai de um instrumento chamado sopipa, mais pesado e de tom mais grave, dentro do candombe.
Uma das inspirações é a aquarela do alemão Rudolf Wendroth, feita na segunda metade do século 19, na qual negros acavalados sobre grandes tambores tocam para outros que dançam. “Não temos material iconográfico ou material escrito, os pesquisadores e visitantes daquela época falam rapidamente sobre isso”, fala Serraria sobre a falta de informações acerca da musicalidade surgida entre os escravos.
Culturas negras irmãs
Para os músicos não há outro lugar para a gravação do DVD, por ser Pelotas um dos berços do sopapo. Por coincidência nenhum deles nasceu no município. Somente Kako Xavier, natural de Lavras do Sul, tem uma maior proximidade, pois veio para cá aos cinco anos e hoje reside no Laranjal.
Para os músicos não há outro lugar para a gravação do DVD, por ser Pelotas um dos berços do sopapo. Por coincidência nenhum deles nasceu no município. Somente Kako Xavier, natural de Lavras do Sul, tem uma maior proximidade, pois veio para cá aos cinco anos e hoje reside no Laranjal.
Para Xavier a explicação é simples, o sopapo se impôs por sua presença e força rítmica. “Existe um enorme respeito ao grande tambor.” Os músicos lembram que cada ritmo é fruto de um contexto histórico diferente e a ideia não é dizer o que é original ou não, mas olhar para esse material do passado e tentar recriar o contexto do toque dos tambores.
Nos shows o sopapo utilizado segue as instruções do seu maior disseminador, Mestre Batista, que morreu em dezembro do ano passado. Mas o tambor do grupo Alabê Ôni sofreu algumas alterações, como um aumento no número de puxadores na tentativa de buscar um maior controle sobre a afinação. Outro diferencial está na forma de tocar, sem o uso do talabarte, a alça de couro que serve para dependurar o instrumento no corpo do ritmista. “Tocamos com ele no chão”, conta Serraria, numa mistura do passado com o presente.
Durante o show, sem nenhum tipo de instrumento elétrico somente voz e percussão, os músicos apresentam aludjas, toques que acompanham determinados cantos do batuque de nação. Também interpretam, em diferentes momentos, os demais ritmos. “Precisamos formar esse grupo para congregar essas culturas negras irmãs”, diz Serraria.
As expressões afro do sul da América dialogam, ainda, com o ijexá, costumeiramente presente nos ritos afro-religiosos da Bahia. Segundo os músicos, o ijexá está presente na cultura dos africanos do sul do Brasil. O único elemento que não sai do palco é o sopapo. “A abertura é com rufar de tambores”, diz Serraria.
O show estreou em 22 de novembro no Rio de Janeiro, logo a seguir foi apresentado em Pelotas. Depois da gravação do DVD, o projeto circulará, a partir de maio, por todo o Brasil.
Matéria publicada no Diário Popular de Pelotas dia 09/01/2013
http://www.diariopopular.com.br/index.php?n_sistema=3056&id_noticia=MjA2Mg%3D%3D&id_area=MA%3D%3D
No Laranjal, nossa base de ensaios para captaçao de áudio dia 09/1/2013.
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