sexta-feira, 20 de abril de 2012

Estudo de caso da letra "O jangadeiro não sabe nadar"


Antecedentes ou precursores:
Cartografia poética e social – Auto do Frade / João Cabral de Melo Neto
Diferentes classes sociais e diversas formas métricas de expressão poética
O metro que muda conforme o pertencimento social na Recife do século XIX

O que a descoberta de Cabral gerou em mim:
Cartografia poética aplicada à canção
Toponímia da cidade que funciona dentro do tecido da canção para além do sentido estrito da localização. Aproveitando a polissemia de alguns nomes de lugares, estabelece-se uma tentativa de fazer com que o entendimento não se esgote na localização geográfica. Busca de que o texto da canção funcione autonomamente mesmo para quem não conheça os lugares citados. Ao mesmo tempo para quem conhece a geografia da cidade alarga-se a possibilidade de leitura da canção que propõe um passeio por determinado território geográfico.

Conto que gerou a canção:
O pescador e sua alma
Oscar Wilde
O pescador se apaixona e ama a sereia e para tanto desfaz-se (vende ao Diabo por intermédio de uma bruxa) da sua alma que passa a andar pelo mundo como algo errante e regido pelas trevas. A alma regressa e tenta o pescador 3 vezes: primeiro com sabedoria, depois com riqueza e por último oferece-lhe sexo em quantidade (simbolizado pelos pés brancos das mais belas dançarinas). O amor não é apenas melhor que a sabedoria e a riqueza mas sobretudo é superior ao Prazer.


A letra nascida:
Ojangadeiro não sabe nadar
Richard Serraria e Otávio Santos

Minha beira é de praia, meu fundo de mar
Sou jangadeiro mas não sei nadar

Na lua da areia, na pedra do morro
Silêncio nas ondas: escuto de novo

Dorme a cidade, acorda a aldeia
No Leme deserto: sirenes, sereias

Jogando a tarrafa, linha bailarina
Puxando a rede que despe a menina, que despe a menina.


Nada além:
é dois de fevereiro eu vou pra beira do mar
Tudo fica bem! Sorrio de janeiro a dezembro com teu beijo, minha Iemanjá, Iemanjá, Iemanjá, Rainha do Mar, Rainha do Mar.

Minha crença é de praia, meu Jardim de Alá
Sou mandingueiro mas não sei rezar

Boca de Espuma, Arrasta Povo
Incêndio nas ondas: vem cá, Botafogo!

Dorme princesa, acorda Isabel
O túnel na pedra, um brilho no céu

Jogando a garrafa, minha dançarina
No mar tenho sede, quero Janaína, quero Janaína.


Dorme a cidade, dorme a cidade, dorme a cidade...



 Ouça a canção no player ao lado

Foto de Leandro Anton

Fala proferida no I Colóquio de Geografia, Literatura e Música da UFRGS
Dia 19 de abril de 2012 no Campus Vale

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